‘A África tem uma história’ resgata a cultura e amplia visões sobre o continente africano
A revista KOBÁ segue ampliando os conteúdos que compõem suas colunas, com o objetivo de enriquecer o material apresentado às comunidades de matrizes africanas. A nova colunista, Ifáwea Mariana Gino, inaugurou o seu espaço na sexta edição da revista, lançada no mês passado apresentando Sincretismos como tema principal.
Professora do curso de Direito e Doutoranda em História Comparada, Mariana está desenvolvendo uma tese com foco na História Intelectual Africana. Em sua coluna na revista KOBÁ, a abordagem proposta terá como objetivo desenvolver reflexões e debates voltados à descolonização do continente africano em diferentes aspectos – sociais, históricos, políticos e culturais.
Em entrevista ao portal de notícias da KOBÁ, a iniciada no culto do Ifá elucidou questões que permitem apresentar sua participação no coletivo de comunicação afrorreligiosa.
KOBÁ | Primeiro, gostaríamos de saber um pouco sobre você. Qual é a sua ligação com as religiosidades de matrizes africanas?
MARIANA | Bom, boa parte da minha família é cristã, praticantes do catolicismo popular, esses que rezam para os santos e santas, mas também suplicam aos orixás, às entidades, tomam uns banhos de erva, um passe ou uma benzeção. Eu era bem envolvida com a paróquia do bairro e com tradições cristãs. Digo tradições cristãs entre a católica, a tradição evangélica e, durante os anos que cursei a minha graduação em Teologia, cheguei até a pensar em seguir a vida religiosa dentro de um convento. Mas, como bem acreditamos nas tradições dos cultos aos orixás, tudo é no tempo do criador, e eu fui iniciada para Ifá em 2019, na cidade de Ogbomosho, localizada no estado de Oyo, na Nigéria. Confesso que o processo de conversão foi bem anterior ao processo de iniciação. Ou melhor, ainda estou e sempre estarei, pois acredito que a conversão é um processo cotidiano.
KOBÁ | Sobre a sua formação e experiência profissional, atualmente você trabalha com o quê?
MARIANA | Atualmente, estou professora do curso de Direito da Universidade Candido Mendes (UCAM) e Doutoranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde desenvolvo a minha tese sobre História Intelectual Africana. Também estou Secrétaire Générale du Centre International Joseph Ki-Zerbo pour l'Afrique et sa Diaspora/N'an laara an saara. (CIJKAD), além de ser coordenadora do Laboratório de História das Experiências Religiosas da UFRJ e atuar como colaboradora nos projetos desenvolvidos pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP).
KOBÁ | Sobre os cultos encontrados na África, qual é a importância de difundir os conhecimentos originários do continente?
MARIANA | Porque são originários, a base de sustentação de uma filosofia cotidiana de vida. É uma pratica espiritual cotidiana que me conecta com os meus ancestrais e, tida a história, que foi silenciada pelos processos de escravidão.
KOBÁ | Para você, o que significa escrever sobre a África nos dias atuais?
MARIANA | Significa dar visibilidade às interpretações históricas dos homens e mulheres do continente africano que ainda estão às margens das interpretações simplistas europeias.
KOBÁ | Qual é a contribuição de Chinua Achebe na sua formação como religiosa e escritora?
MARIANA | Apesar de não ter tido a oportunidade de conhecer Chinua Achebe em vida, a trajetória e o primor das suas escritas me ajudaram a ver um continente africano que eu não aprendi nas escolas e na universidade, uma África onde os deuses cantam, dançam e estão presentes com os que rogam e clamam por suas bênçãos aqui no aiyê.
KOBÁ | Sobre a sua coluna, A África tem uma história, na revista KOBÁ, o que podemos esperar sobre esse conteúdo?
MARIANA | Uma busca incessante pela visibilidade de uma África que está para além do que nos contam e nos falam nos “bancos das escolas”. Quero refletir e pensar, juntos com leitores da KOBÁ sobre a importância de descolonizarmos as nossas releituras sobre o continente africano e primar a reescrita de uma história do continente africano para além da escravidão, da colonização e da descolonização.
Para ler “Forjamentos sobre Áfricas”, primeiro texto da coluna A África tem uma história, assinada por Mariana Gino, clique aqui.
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